Desmundo e a Decoloniadade de Walter Mignolo, sintomas e leituras de vícios brancos.



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“A modernidade não é um período histórico, mas a autonarração dos atores e instituições que, a partir do Renascimento, conceberam-se a si mesmos como o centro do mundo”, declara Walter Mignolo. Com essa citação será iniciada uma leitura critica e analise do filme Desmumdo do diretor Alain Fresnot com o conceito de Decoloniadade de Walter Mignolo.
O filme se desdobra no Brasil por volta de 1570, com a chegada de algumas órfãs, enviadas pela rainha de Portugal, com o objetivo de desposarem os primeiros colonizadores, sendo uma delas, Orible (Simone Spoladore), é uma jovem religiosa que se vê obrigada a casar com Francisco Albuquerque (Osmar Prado), que leva para seu engenho de açúcar.
            Com isso, o filme trata a questão de forma mais literal possível, uma vez que o enredo trata de uma estratégia colonial de trazer esposas para os colonizadores para não ocorrer miscigenação e assim, manter-se branca essa parcela da população que invadiu terras brasileiras.
         Encaro esse filme como uma provocação para pensar como vícios brancos foram deixados marcados pessoas racializadas e como essas marcas são estratégias para desestabilizar quilombos urbanos e símbolos de resistência hoje. Para essa reflexão é necessário exemplificar e recortar o “o Brasil” que é construído nesse filme, portanto a seguir alguns recortes;
·         Sociedade colonial; chamados de “brasis” nome dados aos nativos na época – que também são chamados no filme- são escravizados por jesuítas e então catequizados, paralelamente, negros são raptados por Portugal e trazidos para a colônia para serem escravos.
·         A mulher branca no filme: Apesar de todos os privilégios de uma mulher branca no Brasil Colonial, quando citamos a personagem Oribela vem de um contexto diferente, pois estamos falando de uma mulher órfã que vive sobre domínio do estado português, sendo assim, subjugada tanto pelo estado quanto figuras masculinas no filme.
Durante o desenrolar do filme, há uma serie de cenas e situações de opressão que atravessam toda população que, de alguma forma, são marginalizadas e subjugadas por essa figura branca masculina construída no filme, exemplo disso são os estupros que Oribela sofre, além da animalização de personagens não brancos no filme quando não há tradução para a fala dos mesmos. Com isso, o foco desse texto é como todos esses vícios brancos* atravessam hoje quilombos** de resistência atualmente.

desmundo-2Portanto, ao pensar descolonização, decoloniadade -segundo Walter Mignolo- e pessoas negras vivendo em coletividade é necessário enxergar e refletir como os processos colônias nos afetaram e refletiram nas nossas praticas diárias de violência que desumanizam, inclusive, os nossos iguais. Quando eu aponto que machismo, racismo lgbtfobia é um vicio branco, em nossos contextos e nossas sociabilidades, é propor uma nova forma de resistência negra, uma vez que a negritude nunca esteve interessada em catalogar e desumanizar pessoas em seres humanos e seres não humanas. E então quando nos pessoas negras estamos vivendo em coletividade é importante repensar em quais praticas colônias nos reproduzimos nas nossas vidas.
 Para enriquecer ainda mais essa provocação indico esse áudio e texto da Maria Clara Araújo futura pedagoga e feminista que transversaliza as questões de gênero e raça, que tambem foi uma pesquisadora que uso de referencia nesse texto. Segue o link:


**quilombo: coloco nesse texto como pessoas negras vivendo em coletividade em resistência ao racismo, atualmente. Além disso, essa ideia de quilombo é muito atravessada do discurso de Fabio Kabral.
*vícios brancos: coloco esse conceito como um reflexo de praticas violentas e racistas de ordem branca ao longo da historia.

  
Texto escrito por José Luiz de Oliveira, estudante de artes visuais UFU.


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