Cultura Visual



     Antes de tratar da Cultura Visual é necessário fazer a distinção dos conceitos de visão e visualidade. No artigo de Pablo Sérvio, chamado O que estudam os estudos de cultura visual? Ele argumenta que a visão seria aquilo olhamos e que o cérebro processa, sendo esse órgão responsável pelo “modo como imaginamos e registramos as aparências do mundo” (SÉRVIO, p.197). Porém nem todas as informações enviadas para o cérebro são processadas, devido ao fenômeno de percepção seletiva, ou seja, damos preferencia ou atenção àquilo que nos chama a atenção de maneira inconsciente, por estímulos que por muitas vezes nem nos damos conta.
    Já a visualidade trata da dimensão cultural do olhar, histórica e contextual. Contextualizando a mesma, ela não é igual para todos, pois casa um carrega em si diferentes vivências. Assim, surge a Cultura Visual quando “compreendemos que experimentamos o visual por meio da cultura, por meio de construções simbólicas, como “um sistema de códigos que interpõem um véu ideológico entre nós e o mundo real” (SÉRVIO, p.199).
    As imagens constroem nossas memórias. Ao analisarmos uma imagem publicitária podemos perceber diante desta, uma série de padrões culturais, que refletem uma realidade e contexto, afetando e construindo nossas percepções sobre o mundo e sobre si. As experiências visuais podem estar relacionadas a noções de poder, uma vez que em certas sociedades há um controle com prescrições sobre o que devem ou não devem ver. Assim, a cultura visual como um campo de estudos que surgiu dos estudos culturais, tem como objetivo analisar as imagens em e seus contextos, abordando questões como “a sociedade do espetáculo e o simulacro; políticas de representação; o olhar masculino e a possibilidade de um olhar feminino; o estágio do espelho; fetishismo e voyerismo; a reprodução das imagens; o outro como projeção do discurso racial” (Evans & Hall, 2007).
    Ao visualizar uma imagem podemos compreender o funcionamento de uma sociedade, pensar diferentes experiências visuais ao longo da história sendo essa perceptível a mudanças, tendo como objeto de análise tanto a construção social da visão quanto a construção visual do social, transitando entre esses dois paralelos para compreender as profundidades deste campo. O autor argumenta que Cultura Visual é a “dimensão cultural da experiência visual e que ao tratar de experiência visual incluem-se as imagens, mas, que as imagens são apenas parte do objeto de estudo deste campo” (SÉRVIO, p.205)
    Atualmente vivemos numa sociedade na qual as práticas de produção estão relacionadas às experiências visuais, uma experiência que está cada vez mais mediada por recursos tecnológicos, que estão nos lançando imagens a todo o momento, na era da informação, numa tendência a figurar e visualizar a existência. Essas tecnologias propiciam o acesso massivo ao consumo e produção visual. Portanto, se fez necessário ampliar a discussão para além das pinturas e iconografias, entendendo todas as ferramentas e instrumentos que ampliam nossa capacidade de visualizar. Por sua vez, a experiência visual deve ser analisada mediante a história de sua recepção, analisando através da óptica da época, fazendo esse exercício para entender o contexto e sua importância.
    Ao indagar o aluno sobre que tipos de imagens esses consomem, pensando sobre imagens que o cercam, o educador estará levando o cotidiano para a sala de aula, explorando a experiência dos estudantes e sua realidade, oferecendo a esses uma reflexão sobre a sociedade em que vive, sendo possível a interpretação da sua cultura e época além de tomar contato com a de outros povos. Propiciará também a descoberta de suas próprias concepções e emoções, o que nos afeta ao apreciar uma imagem. Sendo o professor responsável por despertar um olhar curioso frente ao universo que cada vez mais se torna visual. O educador pode optar por levar imagens, refletindo sobre sua prática a partir dessa, pensando em que questões levantar e produzir junto aos alunos a construção desse olhar investigador.

Bibliografia

EVANS, Jessica & HALL, Stuart. (eds.). Visual culture : the reader. London: Sage, 1999.

SÉRVIO, P. P. P. . O que estudam os estudos de cultura visual?. Revista Digital do LAV , v. 7, p. 196-215, 2014.

Texto escrito por Eduarda Catita, para a disciplina de metodologia do ensino de arte da UFU, 2019. 

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